À procura do primeiro emprego
Foto: Graziela Costa
Olá, eu sou o João Pontes. Costumo escrever sob diferentes nomes (João Cinda, Guilherme Dias e Artur Anjos), porque no secundário li Fernando Pessoa e isso lixou-me a cabeça toda. Gostava de não o ter lido, mas agora o mal está feito e afeiçoei-me a estes 3 zés. A Graziela convidou-me a escrever no Vida de desempregada, a que eu chamo Vida D, sobre a minha experiência como jovem em Portugal. É assim uma espécie de testemunho pessoal, que nada dá ao leitor, a não ser talvez a possibilidade de encontrar a sua própria experiência espelhada.
Comecei a minha licenciatura em 2006, 2 anos antes da crise financeira. A geração que vier depois da minha pensará que antes de 2008 devia ser uma festa em Portugal, com todo o Mundo empregado e tudo com plasma na casa-de-banho e uma auto-estrada desde a casa-de-banho até à cozinha de cada cidadão. A verdade é que desde que me lembro que há uma sombra negra sobre Portugal e nunca nos sentimos a viver à grande. Os hospitais diziam-se sobre-lotados, os bancos tinham lucros desfasados da realidade portuguesa e o desemprego foi sempre uma constante. E tudo piorou, ainda assim. É como se estivéssemos a cair do precipício há anos até chegar a 2008, quando finalmente batemos no fundo. O problema é que descobrimos que o fundo era lava explosiva com crocodilos radioactivos à nossa espera. Auch!
Há quem diga que a minha geração viverá sempre 5/10 anos atrasada em relação às outras. Quando eu tiver a minha casa, já a geração anterior a terá. Quando eu tiver finalmente dinheiro para ir conhecer o Mundo, já a geração posterior o terá conhecido, fotografado e cheirado todo. E depois existe aquela sensação estranha de me sentir sanguessuga da sociedade. “Porque não emigras? Porque roubas emprego aos mais velhos?”. Talvez eu devesse ter abandonado os meus estudos aos 18 anos e arranjado emprego, não fosse o caso de me terem chamado sanguessuga se o tivesse feito. “Sem estudos irás viver de subsídios”. Sou sanguessuga de todas as formas, isso já eu aceitei.
E tu? Conta ao Vida D o teu testemunho.