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Fotografia de Steven Governo/Global Imagens
Há 930 mil portugueses sem emprego, 16,9 por cento da população ativa do país. Há quem deprima, há quem fuja para a frente, há quem emigre. E há quem crie blogues na internet, para fazer uma espécie de catarse do mau momento que se vive.
Graziela Costa tem 25 anos, é licenciada em Novas Tecnologias da Comunicação, tem um mestrado em Audiovisual e Multimédia e ainda um curso de fotografia. Está desempregada. Chega ao café onde ficou marcado o encontro, senta-se e à pergunta «quer tomar alguma coisa?» responde que não pode. «Um café é um luxo a que não me permito nos dias que correm.» Oferecemos-lhe, naturalmente, o café.
Não tem trabalho há mais de um ano. Antes disso, também não viveu grandes alegrias. Foi estagiária no jornal Mundo Universitário , onde ganhava 250 euros de subsídio de alimentação, e trabalhou num outro grupo de comunicação a ganhar 445 euros por mês. Nessa altura, acumulava esses dois trabalhos e o mestrado. Poupou muito. Foi o que lhe valeu. Em junho de 2011 ficou sem o estágio e sem o trabalho.
Hoje vive de tarefas pontuais que vai aceitando. Já foi promotora em supermercados, no Natal passado fotografou crianças no Centro Comercial Colombo. Responde a anúncios, envia currículos, vasculha tudo à procura de emprego. E criou o blogue VIDADEDESEMPREGADA.BLOGS.SAPO.PT. Para desabafar? Para não se sentir tão sozinha? Nem por isso. «Para partilhar esta "arte" de encontrar borlas e explicar a toda a gente como se faz.»
Graziela vive em Alvalade, Lisboa, numa casa pequenina. Um achado - mais um - em termos de preço. Conheceu o namorado, João, num concerto gratuito. O estudante de Engenharia Eletrotécnica («ele vai ter emprego, seguramente») acha graça à febre dela pelas borlas e também vai aproveitando: «No outro dia consegui, na Companhia das Sandes, um cachorro grátis. Fomos jantar fora! Mas ele é um sortudo. Bebe um leite UCAL todas as noites. Aquilo custa 2,50 euros!»
«O que mais me custa é responder a anúncios e não dizer que tenho o mestrado. No outro dia respondi a um anúncio para ser caixa de supermercado e fui aconselhada a não pôr o mestrado nas habilitações. Custa-me muito porque, na altura em que o fiz, tinha dois empregos em simultâneo. Saiu-me do pelo. E agora... parece que é uma vergonha, em vez de um orgulho.»
Texto por Sónia Morais Santos. Vê o resto do artigo aqui.
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