Obrigada pai
Gostava de começar a semana a escrever sobre algo feliz, mas a verdade é que o nosso país está a arder, e hoje mais que nunca lembro-me do meu pai. Lembro-me, porque não me sinto segura, isto é, falta-me o meu herói, um herói que eu perdi a 12 de dezembro de 2015 na sequência de um AVC.
Ele não sofreu, porque partiu de repente, mas em mim e na minha mãe deixou um profundo vazio que nunca se apagará. Tanto que, ainda hoje me é difícil ir ao cemitério e olhar para a sua campa. A verdade, é que sinto que o meu pai não morreu foi apenas de férias, aquelas que ele nunca gozou, porque tal como eu, era um workaholic. Aliás, há quem diga (a minha mãe e restante família) que eu sou a pessoa mais parecida com o meu pai. E sim, reconheço em mim muitos dos seus traços físicos: os olhos, a cor da pele e até a falta de cor no verão (acho que só nos bronzeávamos se fossemos para uma praia com mais de cinquenta graus), mas também a sua resiliência, a sua persistência e a sua paixão pelo mundo.
Do meu pai herdei muitas caraterísticas psicológicas, mas também o seu inconformismo quando se sentia injustiçado, a vontade de saber mais sobre tudo o que o rodeava, o seu mau feitio quando acordava virado do avesso (levamos tudo à frente) e a sua capacidade de dar segundas oportunidades, mesmo a quem não merecia.
Ríamos, discutíamos muito, mas a verdade é que dava tudo para o ter aqui comigo. Dava tudo para o poder abraçar de novo e ele me dizer que vai ficar tudo bem.
Infelizmente, ele não vai voltar, mas sei que ele me está a ver e cada passo que eu e a minha mãe damos o deixam orgulhoso. Assim, para quem hoje sente que perdeu tudo apenas digo: não desistam porque infelizmente o mundo não espera por vós. Têm de ser vocês a lutar por vós próprios e têm de ser vocês a reerguer-se quando parece que tudo está perdido.
Posto isto, obrigada pai e mãe por me terem dado as "armas" necessárias para sobreviver neste mundo louco!